domingo, 26 de fevereiro de 2012

Primeiro Capitulo....

Muito tempo sem postar, mesmo que ngm leia, de boa! Vamos ao que interessa:
Primeiro capitulo de um livro que to escrevendo faz um tempo, leiam, comentem, se for uma porcaria falem, ser for bom falem, sei lá.... façam o que quiserem! ;D
Minha mãe leu e disse que ta bom, mas ela quer saber do resto, enfim, opnião de mãe não vale muito! rs



***************

I - SEM TEMPO

Eu entrei no hospital desnorteada. Eu queria correr e gritar, mas minha voz não saia, minhas pernas não obedeciam, meu cérebro não funcionava. Era como um filme em câmera lenta.
Uma enfermeira veio até mim, passou os braços pelos meus ombros e tentou me acalmar falando que estava tudo bem, enquanto me levava para ver minha mãe.
Eu não sabia como minhas pernas obedeciam ao simples comando de andar, o corredor parecia longo demais, e pessoas passavam por mim me olhando, mas eu não conseguia ver seus rostos, nem gravar o caminho até o quarto onde minha mãe estava. Eu não conseguia me lembrar como cheguei no hospital.
A enfermeira me empurrou por uma porta, e ela estava lá. Calma e serena, com a ponta de um sorriso nos lábios, e a expressão severa. Como sempre, desde que eu me lembro. Parecia até que estava dormindo. A minha vida toda passou na minha cabeça como um filme, avançando para partes importantes, e em todos eles, essa ponta de sorriso se transformava em um calor que me aquecia por dentro e me confortava.
Eu apenas peguei sua mão e encostei a cabeça na cama, pedindo desculpas baixinho por chegar atrasada justo hoje. Mas antes que eu conseguisse colocar minha dor pra fora e tentar chorar, alguém me chamou:
- Isabela? Isabela? – disse uma voz tensa.
- Oi? – Minha voz saiu quase um sussurro, levantei a cabeça e vi a enfermeira com uma expressão que misturava dor, pânico e algo mais que eu não sabia dizer o que era.
- Sua mãe, pouco antes de morrer, deixou um bilhete para você, ela ditou e me fez prometer que entregaria somente a você. – ela disse me estendendo um papel dobrado.
Eu peguei o bilhete, que estava meio amassado e olhei para enfermeira, que saiu apressada do quarto.
Olhei para minha mãe tentando imaginar o que ela poderia ter escrito ali. Suas últimas palavras, uma despedida, algum desejo? Conhecendo-a como eu conhecia, com certeza era mais alguma ordem do tipo, faça o que eu digo e não o que eu faço.
Fechei os olhos por um momento, respirei fundo e abri o papel.


Isabela, minha filha, o tempo é curto.
Se está lendo isso é porque infelizmente não somos mais eu e você, de agora em diante, você vai precisar se cuidar sozinha.
Vá para casa, abra o meu guarda roupas, pegue minha mala preta. Você se lembra da combinação não é mesmo?
Pegue tudo o que tem dentro e leve com você. Vá para rodoviária e haverá alguém lá que esclarecerá tudo para você. Você saberá quem é quando a vir. Não confie em mais ninguém.
Me perdoe por deixar várias perguntas sem resposta e por te deixar tão de repente.
Lembre-se de mim e do que eu lhe ensinei, fique segura.
Eu te amo, e sempre te amarei.

Eu fiquei parada, com o papel na mão, olhando para minha mãe e pensando, tentando encontrar um modo de algo fazer sentido. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, a enfermeira entrou novamente:
- Já leu? – disse ela aflita, se aproximando de mim.
- Já, mas ela só disse isso? – perguntei me levantando.
- Não, ela disse para assim que você recebesse o bilhete, fosse para casa. – ela cobriu o corpo da minha mãe, pegou alguns papeis nos pés da cama e trancou a porta por dentro. – e eu acho que deveria ser agora.
- Mas eu preciso... – Disse olhando para o corpo da minha mãe, com um nó na garganta.
- NÃO HÁ TEMPO! – ela disse no momento que alguém tentou abrir a porta.
Puxando-me por uma porta escondida no armário do quarto, saímos na dispensa, ela tirou o jaleco e pegou uma arma, carregou e a colocou na cintura.
- Mas... – eu tentei me desvencilhar, mas ela me empurrou para fora e começou a andar muito rápido, me rebocando pelo braço para a saída do hospital.
- Você vai para casa direto! Está me entendendo? Faça tudo o que sua mãe mandou no bilhete e não olhe para trás! – ela me empurrou para fora das portas do hospital, agora já correndo, e começou a me guiar até o ponto de táxi.
- Mas eu estou de carro, ele está do outro lado... - disse me lembrando como cheguei ao hospital
- Você não pode ir com seu carro, vão rastrear você e te seguir! Faça só o que a sua mãe mandou e fique sã e salva.
-Mas porque? O que está acontecendo? – eu disse, tentando voltar para o hospital, então vi alguém correndo até nós, era um homem com um jaleco do hospital, mas com uma roupa estranha por baixo, não tinha cara de médico.
- Eles chegaram mais rápido do que pensamos! porque ela ainda está aqui? – disse ele olhando para ela e se livrando do jaleco.
- Ela já vai! Volta e atrasa eles, vou mandar ela para casa e já volto. VAI! – ela o olhou indo e se virou para mim pegando a arma, eu me afastei e me enrijeci mas ela disse com uma voz que beirava a histeria – Isabela, é muito importante que você vá para casa e faça exatamente o que sua mãe mandou no bilhete ok? Não converse com ninguém, não olhe para trás, apenas faça isso e você ficara bem, está me entendendo? Eu conhecia a sua mãe, e sei que a ultima coisa que ela queria era que você se machucasse! Você não me conhece, mas precisa confiar em mim, agora vá para casa!
Ela colocou algum dinheiro na minha mão e eu fiquei parada, me sentindo fora do corpo. Não fazia o menor sentido, porque minha mãe escreveria um bilhete desses, e essa mulher, porque não me deixava voltar para ver a minha mãe, eu mal me despedi dela.
Então me assustei quando ouvi uma gritaria, e depois o que me pareceram tiros.
- Isabela, vai! – a mulher gritou, apontou a arma e atirou na direção de dois homens que vinham correndo, eu preparei meu corpo para lutar mas ela começou a atirar e me empurrar em direção ao ponto de táxi. Um deles caiu e o outro apontou a arma para mim, mas a mulher também atirou nele. Outros já vinham atrás e uma correria começou na entrada do Hospital.
Eu olhei para ela que, suplicou com os olhos, enquanto me empurrava, como se pedisse para eu obedecer esse ultimo pedido da minha mãe.

Eu corri e já avistei um táxi estacionando, passei na frente de alguém que já o esperava, mas não parei, entrei no banco de trás e gritei para o motorista andar logo enquanto eu jogava o dinheiro pelo banco. Ele cantou pneu e saiu correndo, eu não olhei para trás, mas parecia que eu ouvia mais tiros e gritos.
- Que pressa hein moça! Onde? – falou ele acelerando e colocando o dinheiro no bolso.
Disse o endereço e pedi para ele ir mais rápido possível.
Encostei-me ao banco e tentei respirar, o meu peito doía, misto de pavor e vontade de chorar, algumas lágrimas escaparam, mas eu fiquei atenta ao caminho e aos carros a nossa volta, não estava muito longe de casa e eu precisava me acalmar pra conseguir fazer tudo direito.
- Tudo bem moça? – perguntou o motorista enquanto parava na frente de casa.
Acenei com a cabeça, desci e andei em direção de casa.
- Ah – disse, voltando em direção ao táxi - você se importaria de me esperar aqui, por favor? Vou só pegar minhas coisas e preciso que me leve a rodoviária, tudo bem? ele acenou e ficou contando o dinheiro.
Eu apertei o passo olhando pros lados, todas as luzes da casa apagadas, entrei e tranquei a porta. Respirei fundo e corri pro meu quarto.
Abri meu guarda roupas e joguei umas mudas de roupas na cama, juntei alguns pertences, peguei minha mochila, coloquei tudo dentro de qualquer jeito e corri pro quarto da minha mãe.
Abri o guarda roupas e vi a mala enorme e toda preta, com um visor e um teclado. Puxei a mala para o chão, era pesada e fez muito barulho. Digitei a senha, ouvi alguns cliques e tampa entreabriu, eu a levantei rápido, puxei uma mochila preta que estava na prateleira de cima do guarda-roupas e comecei a colocar as coisas que estavam na mala, apertando bem para caber tudo, não queria ter que levar comigo mais que o necessário.
Na mala havia bolos de dinheiro arrumados em um canto, algumas pastas, e várias caixas que eu realmente não dei muita atenção, apenas ia colocando tudo de um jeito que coubesse sem danificar nada.
Ouvi a buzina do táxi, terminei de arrumar rápido a mochila, olhei em volta e li o bilhete de novo, suspirei e pensei do porque de tudo isso, mas não era novidade pra mim, a correria e o mistério sempre fizeram parte da minha vida.
Corri para sair, mas do meio do caminho me lembrei dos meus documentos, voltei no meu quarto e peguei minha carteira, parei e olhei em volta. Seria a ultima vez que eu estava vendo meu quarto? Fiquei lembrando das várias mudanças que eu minha mãe já fizemos e das coisas que eu deixava para trás, e com o tempo, aprendi a não me apegar. Mas essa era casa que havíamos ficado mais tempo desde que me lembro. Chegamos até a reformá-la. Fiquei imaginando se em um futuro eu me mudaria, se ficaria aqui sozinha. Voltei em si quando ouvi a campainha.
- Isabela? Sabemos que você está ai, viemos te ajudar! – Junto com a voz, algumas batidas na porta. – Se você não sair, nós vamos entrar. – Mais batidas, desta vez com bastante força.
Coloquei a carteira na mochila junto com os pertences da mala, e a coloquei nas costas, peguei a outra mochila fui até o quarto da minha mãe, que dava vista de frente para casa e olhei, pela fresta da cortina.
Eram cinco homens, todos de preto, olhei para onde o táxi deveria estar, no lugar havia uma van preta e mais três pessoas encostadas nela, com a porta aberta. Olhei de volta pros homens e eles estavam conversando entre si, e se fossem mesmo ajuda? “Vá para rodoviária, haverá alguém te esperando lá, Não confie em ninguém” . Era a voz da minha mãe, com as palavras do bilhete. Repeti mentalmente para mim, respirei e me preparei para sair pela janela da cozinha,que dava para a parte de trás da casa. Dei uma ultima olhada pro homens mas agora eles já estavam com armas na mão e os da van tinham sumido.
Eu dei uma passo para trás, mas derrubei algumas coisas da escrivaninha da minha mãe, um deles olhou para mim pela janela. Eu não o encarei por mais de dois segundos, e sai correndo.
- Na janela, lá em cima, anda gente, vamos! – ouvi a mesma voz gritar, e ouvi barulhos na porta. E agora?

Corri pro banheiro enquanto lembrava que graças ao fato de que fui eu quem reformou a casa junto com a minha mãe, a janela do banheiro era grande como a da sala, e dava direto para a árvore do vizinho, que era grande e eu sempre a escalava quando fugia no meio da noite para andar pela vizinhança e espairecer, ou ir até o parque e ver o sol nascer.
Eu entrei no banheiro e tranquei a porta, e abri a janela, arrumei uma mochila nas costas e a outra na frente do meu corpo me preparei para pular, era um espaço pequeno, mas as mochilas estavam realmente pesadas e não me ajudavam em nada.
Pulei e me agarrei ao galho, ficando pendurada pelas mãos, por pouco não caí. Subi no galho e andei até o outro lado da árvore. Eu não podia descer e correr, eles poderiam me ver e com esse peso extra me pegariam facilmente. Sentei no galho e observei quando dois homens deram a volta na minha casa e um abria a porta do banheiro aos chutes, quebrando-a toda.
- Como assim ela não está na casa? Seus idiotas, como ela pode ter saído? Você não a viu lá em cima Jorge? Vamos gente, encontrem a garota, derrubem a casa toda se for preciso! Eu quero essa garota aqui agora! vocês entenderam?
- Sim senhor! – Gritaram todos os homens e voltaram a entrar na casa, ouvi que eles estavam quebrando tudo, provavelmente achando que eu estava escondida.
Eles ficaram procurando por um tempo, então o homem que deu a ordem anterior gritou:
- Vamos queimar tudo, se ainda estiver ai dentro, morre. O Chefe não vai gostar nada disso, mas fazer o que? Menos trabalho para nós. - disse rindo e pegando um celular enquanto se dirigia para a van.
Os homens saíram da casa e pegaram alguma coisa dentro da van, voltaram para dentro de casa, e eu ouvi e vi eles passando por todos os andares e jogando algum liquido no chão, gasolina provavelmente. Saíram algum tempo depois, deixando só um deles para trás, que ateou fogo em várias latas e atirou pelas janelas, pela porta e em volta da casa. Ouvi um deles gritar, eles entraram na van e partiram.
Vi fumaça saindo por todas as janelas e de repente uma explosão na cozinha.
Observei minha casa queimar e não sabia o que fazer. Eles teriam ido embora mesmo? Será que não tinham outros? E o taxista, para onde foi? Como eu ia chegar na rodoviária sem um táxi, sendo que eu não tinha mais carro nenhum e já passava da meia noite?
Minha cabeça girou por um momento e eu me encostei no tronco da árvore. Meu coração estava acelerado e eu tremia toda. Meu peito doía, eu queria chorar mas não havia tempo para isso. Eu tinha que ir para rodoviária. Tinham coisas a serem esclarecidas e eu não fazia a menor ideia de quem eu ia encontrar e como isso ia acontecer.
O próximo passo mais urgente agora era descer da árvore.
Arrumei a mochila com as coisas da mala nas costas e joguei a outra no chão, olhei para baixo, acho que a adrenalina estava em um nível muito alto, porque não pensei duas vezes e pulei para o chão, só que era mais alto do que eu esperava, tentei me segurar em um dos galhos, mas ele torceu e quebrou, machucando meu pulso. Cai de costas com meu braço latejando, e o corpo dolorido, realmente era mais alto do que esperava. Enquanto me colocava de pé e percebia que a queda fora mais dura do que eu previa, ouvi uma buzina e alguém gritando.
Cheguei na frente da minha casa e o motorista de taxi tinha voltado, ele estava ao telefone e gritava e corria de uma lado pro outro parecendo que ia entrar na casa.
Corri até ele rezando por dentro, para que ele ainda aceitasse me levar na rodoviária.
- Ei moço! oi, você ainda pode me levar? – perguntei tentando fazer uma cara de suplica, mas meu braço começou a doer muito e o que saiu foi uma careta.
- Menina! Você ta bem? Meu Deus do céu! Ta pegando fogo! Temos que chamar a polícia, os bombeiros...
-Não! – eu o interrompi pegando pelo braço e puxando pro taxi – Eu preciso ir para rodoviária agora! Por favor!
- Mas...a sua casa...
- Deixa queimar! Não podemos fazer mais nada,vamos! – Gritei e entrei no táxi.
Ele entrou e começou a dirigir, eu me ajeitei no banco e controlei a respiração, olhei para trás enquanto minha casa pegava fogo e alguns vizinhos saiam para ver o que estava acontecendo.
- Nossa, eu fiquei assustado, você esta mesmo bem? – perguntou ele olhando pro meu braço que eu apertava contra o peito, e a minha expressão de dor – Eu estava te esperando mais a van chegou e eles pararam logo atrás de mim, eu buzinei para você sair logo, então um deles veio e perguntou o que eu estava esperando, eu ia responder que estava te esperando para ir para rodoviária mas vi que eles tinham armas, então só respondi que tinha te trazido e que já estava indo embora. Eu dei a volta no quarterão e fiquei parado na esquina, até que a van foi embora. O que aconteceu?
- Eu não sei – minha voz falhou – eles apareceram, entraram em casa e puseram fogo em tudo. Eu fugi pela janela. Mas muito obrigado, eu não sei como faria se você não tivesse voltado.
- Eu não sou homem de deixar as pessoas na mão não menina, não se preocupe. - disse ele com uma voz profunda – Não quer ir para um hospital, isso parece feio. - ele me olhou de cima a baixo e pareceu preocupado.
- Não, para rodoviária, por favor. - disse tentando manter o rosto sem expressão, mas eu estava apavorada.
- Vou te levar para rodoviária e se precisar de mais alguma coisa é só falar. – disse ele enquanto acelerava e cortava alguns carros.
Eu olhei pela janela e parecia que ia chover, a rodoviária ficava a uns 40 minutos de casa, mas do jeito que ele corria e passava o sinal vermelho, tinha certeza que chegaríamos em 20 minutos. Eu olhei para ele e mesmo sem saber o nome dele pensei no que poderia fazer para ajudá-lo. Ele parecia pai de família, tinha o rosto de um senhor brincalhão mas estava suando, vermelho, e tremia muito.
Abri o bolso da frente da mochila com as coisas da mala e peguei um bolinho de dinheiro, mais ou menos com uns mil reais e coloquei no bolso. Passado mais algum tempo, vi a rodoviária e ele fez a curva para entrar na área de desembarque e eu comecei a me ajeitar, pronta para sair sem olhar para trás.
Ele parou e desligou o motor:
- Menina – disse ele segurando meu braço e me olhando de um jeito que parecia afetado – você vai para onde? Quer ajuda para alguma coisa? Algo que eu possa fazer por você?
- Não, obrigada – Disse pegando a mão dele e colocando o dinheiro – você fez mais do que eu poderia pedir, e se arriscou mais do que deveria, fique com o dinheiro ok? – sorri só com os lábios e sai do carro sem olhar para ele, o nó na minha garganta já estava apertado de mais.

Comecei a andar apressadamente a esmo, sem saber direito o que fazer, para onde ir, quem encontrar. Eu esbarrava nas pessoas e elas me olhavam com raiva ou apenas ignoravam a minha presença. Eu queria reconhecer alguma delas, ou que alguma delas fosse a pessoa que me daria as explicações. Comecei a ficar em pânico e me sentir um pouco tonta, olhei alguns bancos mais afastados e andei para me sentar, precisava me acalmar para pensar melhor.
Coloquei as mochilas na cadeira do lado, mas acabei pegando uma, colocando no colo e coloquei a cabeça por cima. Respirei fundo algumas vezes e senti como se estivesse sendo vigiada, olhei para frente. Ninguém parecia notar a minha presença e eu não reconhecia ninguém. Ri comigo mesma. A única pessoa de quem me lembrava era minha mãe e alguns amigos dela que eu nunca tive muito contato. Mas minha mãe estava morta, e com ela foram todos os contatos que poderiam de repente me ajudar agora.
Algumas lágrimas escaparam, eu me ajeitei no banco, passei a mão nos cabelos e nos olhos, meu braço ainda doendo. Eu estava dolorida, cansada e a ponto de desmaiar, mas a sensação continuava comigo, como se alguém estivesse me olhando bem de perto. Não havia tantas pessoas devido ao horário, mas todas elas andavam de um lado para o outro. Algumas pessoas conversando, comparando passagens, outras sentadas esperando o ônibus. O mais próximo de mim era um garoto sentado algumas fileiras a frente, que falava ao telefone, mas eu também não o conhecia. Ele olhou para mim por um momento e parou de conversar. Olhei para o lado meio envergonhada, eu poderia estar sendo inconveniente. Vi pelo canto do olho quando ele se levantou e foi sentar do outro lado das cadeiras para continuar a falar no telefone. Ao meu lado tinha uma dessas máquinas que vendem refrigerante e outras coisas. Fui até a máquina, precisava beber alguma coisa. Achei umas moedas e peguei uma água mesmo, bebi alguns goles percebendo que estava com mais sede do que imaginava.
Voltei e sentei, o relógio grande no meio do terminal mostrava que acabava de dar duas da manhã. Estava ficando realmente cansada.
Piscar estava ficando cada vez mais cansativo e demorado, e as vozes estavam virando zumbidos distantes. Cochilei.
Abri os olhos assustada quando uma voz me despertou, era o alto falando informando as próximas partidas. Me molhei um pouco, esquecendo da garrafa de água aberta na minha mão. Olhei no relógio novamente. Duas e meia. O terminal já estava mais vazio e não tinha ninguém a minha volta, só alguns empregados limpando.
Olhei em volta meio perdida. Vi a placa do banheiro, levantei e fui até lá, era melhor ver o meu estado, me arrumar e me limpar. eu precisava fazer alguma coisa para sair dali.
Cheguei no banheiro totalmente vazio e fui até a ultima pia. Lavei o rosto e me olhei no espelho. Eu estava pálida, meio suja, minha blusa molhada e a roupa toda torta. Arrumei os cabelos com as mãos, tirei a blusa e sequei o rosto na blusa mesmo e me ajeitei. Estava melhor agora, menos maltrapilha. Amarrei a blusa na cintura, peguei mais um dinheiro, eu tinha que estar preparada.
Sai do banheiro e ao invés de voltar e sentar, fui até aos guichês ver quais eram os destinos, afinal eu conhecia a rodoviária mais nunca peguei um ônibus para lugar nenhum.
Interior de São Paulo, outros estados, até outros países. para onde eu iria, não conhecia nada nem ninguém. Mas não podia ficar ali para sempre e parece que ninguém estava ali para me procurar.
- Isabela? – Ouvi uma voz atrás de mim.
Me virei e dei de cara com o rapaz que vi pouco antes, ele estava andando na minha direção com uma cara que mesclava o pânico e o alívio.
- Oi? – perguntei baixinho dando um passo involuntário para trás.
- Graças a Deus! Achei que nunca ia encontrar você! – Disse ele sorrindo, chegando mais perto e me dando uma abraço apertado e rapidamente me falando ao ouvido – Venha sem fazer peguntas, eu sei da sua mãe, estou aqui para te ajudar. Está tudo bem.
Ele passou o braço pelos meus ombros e me guiou para outro lado da rodoviária, indo sentido ao estacionamento, olhando para todos os lados e andando cada vez mais rápido.
- Para onde estamos indo? – perguntei olhando para ele e tropeçando nos meus próprios pés enquanto olhava para os guichês.
- Para um lugar seguro onde eu possa te contar tudo, mas não posso falar mais nada nesse momento, estamos sendo seguidos e precisamos ir rápido. – disse ele sem olhar para mim.
Olhei de relance para trás e vi os mesmos homens de preto que atearam fogo na minha casa e quase me pegaram antes, dispersados tentando se misturar as pessoas. Meu coração começou a bater mais forte e senti calafrios. O que estava acontecendo?
Senti meu corpo sendo puxado contra uma porta, que se abriu e dava de frente para vários lances de escada.
- Atrás de mim! – disse ele correndo e me puxando pela mão pelo lance que descia. Quando terminei de descer a segunda escada ele abriu uma porta com um pontapé e me puxou por ela, antes da porta bater ouvi gritos e outras pessoas descendo a escada.
Andamos pela plataforma e ele parou atrás de uma propaganda perto de umas barracas de lanche. Ele continuou segurando a minha mão enquanto pegava o telefone e ligava para alguém:
- Alô, Paulo, eles encontraram ela, estão aqui, não consigo chegar até o carro. Eu estou nas plataformas de desembarque, perto da saída do terminal, mas eu vi uns cinco deles e com certeza tem mais espalhados. – uma pausa e ele me puxou para mais perto dele, me puxando pela mão – ela está bem, mas não tem como correr rápido o suficiente...- senti a mão dele apertando a minha e ele olhou na minha direção – Claro, pode deixar.
Ouvimos passos perto de nós e ele ficou tenso. Pelas vozes era alguém da limpeza.
- Isabela, me dá uma das suas mochilas – disse ele já tirando o peso das minhas mãos – Preste muita atenção no que eu vou falar ok? Nós vamos sair e ir para o fim do terminal de embarque, faça tudo o que eu mandar e não pare de andar até chegarmos a última plataforma tudo bem? Não fique com medo, sei da sua mãe e de quase tudo sobre você, eu vou te proteger. - disse ele piscando - Pronta?
Balancei a cabeça, sem saber se minha voz sairia. A adrenalina era tanta que eu quase não sentia meu braço doendo, ou meu corpo protestando por ter acabado de sofrer uma queda. Respirei fundo uni minhas ultimas forças e segui bem atrás dele assim que ele começou a andar. Andamos quase correndo, e eu pulando e tropeçando em todas as malas, esbarrando em algumas pessoas, mas sem conseguir dizer nada.
Chegamos nas ultimas plataformas e um carro encostou do nosso lado, grande, todo preto. Ele parou e quando abriu a porta de trás para mim, ouvimos gritos e tiros.
Eles acertaram no carro, no vidro e no ombro do rapaz, que tentava me empurrar para dentro do carro e em mais um monte de lugares que eu não vi. Ele me jogou no banco e eu cai deitada, ele entrou me empurrando e gritando com o motorista, ouvi mais alguns disparos e senti o carro se mover rapidamente. Tentei me sentar mais o lado da minha barriga estava doendo, coloquei a mão e senti o sangue. Gemi alto e tentei me arrumar mais a dor era horrível, a minha vista começou a ficar embaçada.
- Arthur, tudo bem, você foi ferido? – disse o motorista
- Foi de raspão no ombro, estou bem, acho que estamos...- Ele parou de falar e senti as mãos dele onde doía em minha barriga– Ah não! Ela foi atingida! Acho que vai desmaiar! Isabela? Você consegue me ouvir?
- Sim, mas tá doendo....merda! – disse ofegante e de repente todo o meu corpo pareceu se resumir para a lateral da minha barriga, a dor era alucinante, e tentei não gritar mas quando mais eu reprimia, mas a dor aumentava.
- Corre Paulo, acho que a bala ainda ta aqui dentro, ela vai desmaiar, ta perdendo muito sangue.
- Estamos chegando, estamos chegando já!
Ouvi mais uns zumbidos e meu corpo já não obedecia mais, estava consciente da mão estancando o ferimento, do carro correndo, da chuva na janela, mas não tinha mais dor, eu não sentia mais o meu corpo. Não consegui falar nada, apenas me deixei afundar mais e mais na inconsciência.
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