Primeiro capitulo de um livro que to escrevendo faz um tempo, leiam, comentem, se for uma porcaria falem, ser for bom falem, sei lá.... façam o que quiserem! ;D
Minha mãe leu e disse que ta bom, mas ela quer saber do resto, enfim, opnião de mãe não vale muito! rs
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I - SEM TEMPO
Eu entrei no hospital
desnorteada. Eu queria correr e gritar, mas minha voz não saia,
minhas pernas não obedeciam, meu cérebro não funcionava. Era como
um filme em câmera lenta.
Uma enfermeira veio até
mim, passou os braços pelos meus ombros e tentou me acalmar falando
que estava tudo bem, enquanto me levava para ver minha mãe.
Eu não sabia como
minhas pernas obedeciam ao simples comando de andar, o corredor
parecia longo demais, e pessoas passavam por mim me olhando, mas eu
não conseguia ver seus rostos, nem gravar o caminho até o quarto
onde minha mãe estava. Eu não conseguia me lembrar como cheguei no
hospital.
A enfermeira me
empurrou por uma porta, e ela estava lá. Calma e serena, com a ponta
de um sorriso nos lábios, e a expressão severa. Como sempre, desde
que eu me lembro. Parecia até que estava dormindo. A minha vida toda
passou na minha cabeça como um filme, avançando para partes
importantes, e em todos eles, essa ponta de sorriso se transformava
em um calor que me aquecia por dentro e me confortava.
Eu apenas peguei sua
mão e encostei a cabeça na cama, pedindo desculpas baixinho por
chegar atrasada justo hoje. Mas antes que eu conseguisse colocar
minha dor pra fora e tentar chorar, alguém me chamou:
- Isabela? Isabela? –
disse uma voz tensa.
- Oi? – Minha voz
saiu quase um sussurro, levantei a cabeça e vi a enfermeira com uma
expressão que misturava dor, pânico e algo mais que eu não sabia
dizer o que era.
- Sua mãe, pouco antes
de morrer, deixou um bilhete para você, ela ditou e me fez prometer
que entregaria somente a você. – ela disse me estendendo um papel
dobrado.
Eu peguei o bilhete,
que estava meio amassado e olhei para enfermeira, que saiu apressada
do quarto.
Olhei para minha mãe
tentando imaginar o que ela poderia ter escrito ali. Suas últimas
palavras, uma despedida, algum desejo? Conhecendo-a como eu conhecia,
com certeza era mais alguma ordem do tipo, faça o que eu digo e não
o que eu faço.
Fechei os olhos por um
momento, respirei fundo e abri o papel.
Isabela, minha
filha, o tempo é curto.
Se está lendo isso
é porque infelizmente não somos mais eu e você, de agora em
diante, você vai precisar se cuidar sozinha.
Vá para casa, abra
o meu guarda roupas, pegue minha mala preta. Você se lembra da
combinação não é mesmo?
Pegue tudo o que tem
dentro e leve com você. Vá para rodoviária e haverá alguém lá
que esclarecerá tudo para você. Você saberá quem é quando a
vir. Não confie em mais ninguém.
Me perdoe por deixar
várias perguntas sem resposta e por te deixar tão de repente.
Lembre-se de mim e
do que eu lhe ensinei, fique segura.
Eu te amo, e sempre
te amarei.
Eu fiquei parada, com o
papel na mão, olhando para minha mãe e pensando, tentando encontrar
um modo de algo fazer sentido. Mas antes que eu pudesse fazer
qualquer coisa, a enfermeira entrou novamente:
- Já leu? – disse
ela aflita, se aproximando de mim.
- Já, mas ela só
disse isso? – perguntei me levantando.
- Não, ela disse para
assim que você recebesse o bilhete, fosse para casa. – ela cobriu
o corpo da minha mãe, pegou alguns papeis nos pés da cama e trancou
a porta por dentro. – e eu acho que deveria ser agora.
- Mas eu preciso... –
Disse olhando para o corpo da minha mãe, com um nó na garganta.
- NÃO HÁ TEMPO! –
ela disse no momento que alguém tentou abrir a porta.
Puxando-me por uma
porta escondida no armário do quarto, saímos na dispensa, ela tirou
o jaleco e pegou uma arma, carregou e a colocou na cintura.
- Mas... – eu tentei
me desvencilhar, mas ela me empurrou para fora e começou a andar
muito rápido, me rebocando pelo braço para a saída do hospital.
- Você vai para casa
direto! Está me entendendo? Faça tudo o que sua mãe mandou no
bilhete e não olhe para trás! – ela me empurrou para fora das
portas do hospital, agora já correndo, e começou a me guiar até o
ponto de táxi.
- Mas eu estou de
carro, ele está do outro lado... - disse me lembrando como cheguei
ao hospital
- Você não pode ir
com seu carro, vão rastrear você e te seguir! Faça só o que a sua
mãe mandou e fique sã e salva.
-Mas porque? O que
está acontecendo? – eu disse, tentando voltar para o hospital,
então vi alguém correndo até nós, era um homem com um jaleco do
hospital, mas com uma roupa estranha por baixo, não tinha cara de
médico.
- Eles chegaram mais
rápido do que pensamos! porque ela ainda está aqui? – disse ele
olhando para ela e se livrando do jaleco.
- Ela já vai! Volta e
atrasa eles, vou mandar ela para casa e já volto. VAI! – ela o
olhou indo e se virou para mim pegando a arma, eu me afastei e me
enrijeci mas ela disse com uma voz que beirava a histeria –
Isabela, é muito importante que você vá para casa e faça
exatamente o que sua mãe mandou no bilhete ok? Não converse com
ninguém, não olhe para trás, apenas faça isso e você ficara bem,
está me entendendo? Eu conhecia a sua mãe, e sei que a ultima coisa
que ela queria era que você se machucasse! Você não me conhece,
mas precisa confiar em mim, agora vá para casa!
Ela colocou algum
dinheiro na minha mão e eu fiquei parada, me sentindo fora do corpo.
Não fazia o menor sentido, porque minha mãe escreveria um bilhete
desses, e essa mulher, porque não me deixava voltar para ver a minha
mãe, eu mal me despedi dela.
Então me assustei
quando ouvi uma gritaria, e depois o que me pareceram tiros.
- Isabela, vai! – a
mulher gritou, apontou a arma e atirou na direção de dois homens
que vinham correndo, eu preparei meu corpo para lutar mas ela
começou a atirar e me empurrar em direção ao ponto de táxi. Um
deles caiu e o outro apontou a arma para mim, mas a mulher também
atirou nele. Outros já vinham atrás e uma correria começou na
entrada do Hospital.
Eu olhei para ela que,
suplicou com os olhos, enquanto me empurrava, como se pedisse para eu
obedecer esse ultimo pedido da minha mãe.
Eu corri e já avistei
um táxi estacionando, passei na frente de alguém que já o
esperava, mas não parei, entrei no banco de trás e gritei para o
motorista andar logo enquanto eu jogava o dinheiro pelo banco. Ele
cantou pneu e saiu correndo, eu não olhei para trás, mas parecia
que eu ouvia mais tiros e gritos.
- Que pressa hein moça!
Onde? – falou ele acelerando e colocando o dinheiro no bolso.
Disse o endereço e
pedi para ele ir mais rápido possível.
Encostei-me ao banco e
tentei respirar, o meu peito doía, misto de pavor e vontade de
chorar, algumas lágrimas escaparam, mas eu fiquei atenta ao caminho
e aos carros a nossa volta, não estava muito longe de casa e eu
precisava me acalmar pra conseguir fazer tudo direito.
- Tudo bem moça? –
perguntou o motorista enquanto parava na frente de casa.
Acenei com a cabeça,
desci e andei em direção de casa.
- Ah – disse,
voltando em direção ao táxi - você se importaria de me esperar
aqui, por favor? Vou só pegar minhas coisas e preciso que me leve a
rodoviária, tudo bem? ele acenou e ficou contando o dinheiro.
Eu apertei o passo
olhando pros lados, todas as luzes da casa apagadas, entrei e
tranquei a porta. Respirei fundo e corri pro meu quarto.
Abri meu guarda roupas
e joguei umas mudas de roupas na cama, juntei alguns pertences,
peguei minha mochila, coloquei tudo dentro de qualquer jeito e corri
pro quarto da minha mãe.
Abri o guarda roupas e
vi a mala enorme e toda preta, com um visor e um teclado. Puxei a
mala para o chão, era pesada e fez muito barulho. Digitei a senha,
ouvi alguns cliques e tampa entreabriu, eu a levantei rápido, puxei
uma mochila preta que estava na prateleira de cima do guarda-roupas e
comecei a colocar as coisas que estavam na mala, apertando bem para
caber tudo, não queria ter que levar comigo mais que o necessário.
Na mala havia bolos de
dinheiro arrumados em um canto, algumas pastas, e várias caixas que
eu realmente não dei muita atenção, apenas ia colocando tudo de um
jeito que coubesse sem danificar nada.
Ouvi a buzina do táxi,
terminei de arrumar rápido a mochila, olhei em volta e li o bilhete
de novo, suspirei e pensei do porque de tudo isso, mas não era
novidade pra mim, a correria e o mistério sempre fizeram parte da
minha vida.
Corri para sair, mas do
meio do caminho me lembrei dos meus documentos, voltei no meu quarto
e peguei minha carteira, parei e olhei em volta. Seria a ultima vez
que eu estava vendo meu quarto? Fiquei lembrando das várias mudanças
que eu minha mãe já fizemos e das coisas que eu deixava para trás,
e com o tempo, aprendi a não me apegar. Mas essa era casa que
havíamos ficado mais tempo desde que me lembro. Chegamos até a
reformá-la. Fiquei imaginando se em um futuro eu me mudaria, se
ficaria aqui sozinha. Voltei em si quando ouvi a campainha.
- Isabela? Sabemos que
você está ai, viemos te ajudar! – Junto com a voz, algumas
batidas na porta. – Se você não sair, nós vamos entrar. – Mais
batidas, desta vez com bastante força.
Coloquei a carteira na
mochila junto com os pertences da mala, e a coloquei nas costas,
peguei a outra mochila fui até o quarto da minha mãe, que dava
vista de frente para casa e olhei, pela fresta da cortina.
Eram cinco homens,
todos de preto, olhei para onde o táxi deveria estar, no lugar havia
uma van preta e mais três pessoas encostadas nela, com a porta
aberta. Olhei de volta pros homens e eles estavam conversando entre
si, e se fossem mesmo ajuda? “Vá para rodoviária, haverá
alguém te esperando lá, Não confie em ninguém” . Era a voz
da minha mãe, com as palavras do bilhete. Repeti mentalmente para
mim, respirei e me preparei para sair pela janela da cozinha,que dava
para a parte de trás da casa. Dei uma ultima olhada pro homens mas
agora eles já estavam com armas na mão e os da van tinham sumido.
Eu dei uma passo para
trás, mas derrubei algumas coisas da escrivaninha da minha mãe, um
deles olhou para mim pela janela. Eu não o encarei por mais de dois
segundos, e sai correndo.
- Na janela, lá em
cima, anda gente, vamos! – ouvi a mesma voz gritar, e ouvi barulhos
na porta. E agora?
Corri pro banheiro
enquanto lembrava que graças ao fato de que fui eu quem reformou a
casa junto com a minha mãe, a janela do banheiro era grande como a
da sala, e dava direto para a árvore do vizinho, que era grande e eu
sempre a escalava quando fugia no meio da noite para andar pela
vizinhança e espairecer, ou ir até o parque e ver o sol nascer.
Eu entrei no banheiro e
tranquei a porta, e abri a janela, arrumei uma mochila nas costas e a
outra na frente do meu corpo me preparei para pular, era um espaço
pequeno, mas as mochilas estavam realmente pesadas e não me ajudavam
em nada.
Pulei e me agarrei ao
galho, ficando pendurada pelas mãos, por pouco não caí. Subi no
galho e andei até o outro lado da árvore. Eu não podia descer e
correr, eles poderiam me ver e com esse peso extra me pegariam
facilmente. Sentei no galho e observei quando dois homens deram a
volta na minha casa e um abria a porta do banheiro aos chutes,
quebrando-a toda.
- Como assim ela não
está na casa? Seus idiotas, como ela pode ter saído? Você não a
viu lá em cima Jorge? Vamos gente, encontrem a garota, derrubem a
casa toda se for preciso! Eu quero essa garota aqui agora! vocês
entenderam?
- Sim senhor! –
Gritaram todos os homens e voltaram a entrar na casa, ouvi que eles
estavam quebrando tudo, provavelmente achando que eu estava
escondida.
Eles ficaram procurando
por um tempo, então o homem que deu a ordem anterior gritou:
- Vamos queimar tudo,
se ainda estiver ai dentro, morre. O Chefe não vai gostar nada
disso, mas fazer o que? Menos trabalho para nós. - disse rindo e
pegando um celular enquanto se dirigia para a van.
Os homens saíram da
casa e pegaram alguma coisa dentro da van, voltaram para dentro de
casa, e eu ouvi e vi eles passando por todos os andares e jogando
algum liquido no chão, gasolina provavelmente. Saíram algum tempo
depois, deixando só um deles para trás, que ateou fogo em várias
latas e atirou pelas janelas, pela porta e em volta da casa. Ouvi um
deles gritar, eles entraram na van e partiram.
Vi fumaça saindo por
todas as janelas e de repente uma explosão na cozinha.
Observei minha casa
queimar e não sabia o que fazer. Eles teriam ido embora mesmo? Será
que não tinham outros? E o taxista, para onde foi? Como eu ia chegar
na rodoviária sem um táxi, sendo que eu não tinha mais carro
nenhum e já passava da meia noite?
Minha cabeça girou por
um momento e eu me encostei no tronco da árvore. Meu coração
estava acelerado e eu tremia toda. Meu peito doía, eu queria chorar
mas não havia tempo para isso. Eu tinha que ir para rodoviária.
Tinham coisas a serem esclarecidas e eu não fazia a menor ideia de
quem eu ia encontrar e como isso ia acontecer.
O próximo passo mais
urgente agora era descer da árvore.
Arrumei a mochila com
as coisas da mala nas costas e joguei a outra no chão, olhei para
baixo, acho que a adrenalina estava em um nível muito alto, porque
não pensei duas vezes e pulei para o chão, só que era mais alto do
que eu esperava, tentei me segurar em um dos galhos, mas ele torceu e
quebrou, machucando meu pulso. Cai de costas com meu braço
latejando, e o corpo dolorido, realmente era mais alto do que
esperava. Enquanto me colocava de pé e percebia que a queda fora
mais dura do que eu previa, ouvi uma buzina e alguém gritando.
Cheguei na frente da
minha casa e o motorista de taxi tinha voltado, ele estava ao
telefone e gritava e corria de uma lado pro outro parecendo que ia
entrar na casa.
Corri até ele rezando
por dentro, para que ele ainda aceitasse me levar na rodoviária.
- Ei moço! oi, você
ainda pode me levar? – perguntei tentando fazer uma cara de
suplica, mas meu braço começou a doer muito e o que saiu foi uma
careta.
- Menina! Você ta bem?
Meu Deus do céu! Ta pegando fogo! Temos que chamar a polícia, os
bombeiros...
-Não! – eu o
interrompi pegando pelo braço e puxando pro taxi – Eu preciso ir
para rodoviária agora! Por favor!
- Mas...a sua casa...
- Deixa queimar! Não
podemos fazer mais nada,vamos! – Gritei e entrei no táxi.
Ele entrou e começou a
dirigir, eu me ajeitei no banco e controlei a respiração, olhei
para trás enquanto minha casa pegava fogo e alguns vizinhos saiam
para ver o que estava acontecendo.
- Nossa, eu fiquei
assustado, você esta mesmo bem? – perguntou ele olhando pro meu
braço que eu apertava contra o peito, e a minha expressão de dor –
Eu estava te esperando mais a van chegou e eles pararam logo atrás
de mim, eu buzinei para você sair logo, então um deles veio e
perguntou o que eu estava esperando, eu ia responder que estava te
esperando para ir para rodoviária mas vi que eles tinham armas,
então só respondi que tinha te trazido e que já estava indo
embora. Eu dei a volta no quarterão e fiquei parado na esquina, até
que a van foi embora. O que aconteceu?
- Eu não sei – minha
voz falhou – eles apareceram, entraram em casa e puseram fogo em
tudo. Eu fugi pela janela. Mas muito obrigado, eu não sei como faria
se você não tivesse voltado.
- Eu não sou homem de
deixar as pessoas na mão não menina, não se preocupe. - disse ele
com uma voz profunda – Não quer ir para um hospital, isso parece
feio. - ele me olhou de cima a baixo e pareceu preocupado.
- Não, para
rodoviária, por favor. - disse tentando manter o rosto sem
expressão, mas eu estava apavorada.
- Vou te levar para
rodoviária e se precisar de mais alguma coisa é só falar. –
disse ele enquanto acelerava e cortava alguns carros.
Eu olhei pela janela e
parecia que ia chover, a rodoviária ficava a uns 40 minutos de casa,
mas do jeito que ele corria e passava o sinal vermelho, tinha certeza
que chegaríamos em 20 minutos. Eu olhei para ele e mesmo sem saber o
nome dele pensei no que poderia fazer para ajudá-lo. Ele parecia pai
de família, tinha o rosto de um senhor brincalhão mas estava
suando, vermelho, e tremia muito.
Abri o bolso da frente
da mochila com as coisas da mala e peguei um bolinho de dinheiro,
mais ou menos com uns mil reais e coloquei no bolso. Passado mais
algum tempo, vi a rodoviária e ele fez a curva para entrar na área
de desembarque e eu comecei a me ajeitar, pronta para sair sem olhar
para trás.
Ele parou e desligou o
motor:
- Menina – disse ele
segurando meu braço e me olhando de um jeito que parecia afetado –
você vai para onde? Quer ajuda para alguma coisa? Algo que eu possa
fazer por você?
- Não, obrigada –
Disse pegando a mão dele e colocando o dinheiro – você fez mais
do que eu poderia pedir, e se arriscou mais do que deveria, fique com
o dinheiro ok? – sorri só com os lábios e sai do carro sem olhar
para ele, o nó na minha garganta já estava apertado de mais.
Comecei a andar
apressadamente a esmo, sem saber direito o que fazer, para onde ir,
quem encontrar. Eu esbarrava nas pessoas e elas me olhavam com raiva
ou apenas ignoravam a minha presença. Eu queria reconhecer alguma
delas, ou que alguma delas fosse a pessoa que me daria as
explicações. Comecei a ficar em pânico e me sentir um pouco tonta,
olhei alguns bancos mais afastados e andei para me sentar, precisava
me acalmar para pensar melhor.
Coloquei as mochilas na
cadeira do lado, mas acabei pegando uma, colocando no colo e
coloquei a cabeça por cima. Respirei fundo algumas vezes e senti
como se estivesse sendo vigiada, olhei para frente. Ninguém parecia
notar a minha presença e eu não reconhecia ninguém. Ri comigo
mesma. A única pessoa de quem me lembrava era minha mãe e alguns
amigos dela que eu nunca tive muito contato. Mas minha mãe estava
morta, e com ela foram todos os contatos que poderiam de repente me
ajudar agora.
Algumas lágrimas
escaparam, eu me ajeitei no banco, passei a mão nos cabelos e nos
olhos, meu braço ainda doendo. Eu estava dolorida, cansada e a ponto
de desmaiar, mas a sensação continuava comigo, como se alguém
estivesse me olhando bem de perto. Não havia tantas pessoas devido
ao horário, mas todas elas andavam de um lado para o outro. Algumas
pessoas conversando, comparando passagens, outras sentadas esperando
o ônibus. O mais próximo de mim era um garoto sentado algumas
fileiras a frente, que falava ao telefone, mas eu também não o
conhecia. Ele olhou para mim por um momento e parou de conversar.
Olhei para o lado meio envergonhada, eu poderia estar sendo
inconveniente. Vi pelo canto do olho quando ele se levantou e foi
sentar do outro lado das cadeiras para continuar a falar no
telefone. Ao meu lado tinha uma dessas máquinas que vendem
refrigerante e outras coisas. Fui até a máquina, precisava beber
alguma coisa. Achei umas moedas e peguei uma água mesmo, bebi alguns
goles percebendo que estava com mais sede do que imaginava.
Voltei e sentei, o
relógio grande no meio do terminal mostrava que acabava de dar duas
da manhã. Estava ficando realmente cansada.
Piscar estava ficando
cada vez mais cansativo e demorado, e as vozes estavam virando
zumbidos distantes. Cochilei.
Abri os olhos assustada
quando uma voz me despertou, era o alto falando informando as
próximas partidas. Me molhei um pouco, esquecendo da garrafa de água
aberta na minha mão. Olhei no relógio novamente. Duas e meia. O
terminal já estava mais vazio e não tinha ninguém a minha volta,
só alguns empregados limpando.
Olhei em volta meio
perdida. Vi a placa do banheiro, levantei e fui até lá, era melhor
ver o meu estado, me arrumar e me limpar. eu precisava fazer alguma
coisa para sair dali.
Cheguei no banheiro
totalmente vazio e fui até a ultima pia. Lavei o rosto e me olhei no
espelho. Eu estava pálida, meio suja, minha blusa molhada e a roupa
toda torta. Arrumei os cabelos com as mãos, tirei a blusa e sequei o
rosto na blusa mesmo e me ajeitei. Estava melhor agora, menos
maltrapilha. Amarrei a blusa na cintura, peguei mais um dinheiro, eu
tinha que estar preparada.
Sai do banheiro e ao
invés de voltar e sentar, fui até aos guichês ver quais eram os
destinos, afinal eu conhecia a rodoviária mais nunca peguei um
ônibus para lugar nenhum.
Interior de São Paulo,
outros estados, até outros países. para onde eu iria, não conhecia
nada nem ninguém. Mas não podia ficar ali para sempre e parece que
ninguém estava ali para me procurar.
- Isabela? – Ouvi uma
voz atrás de mim.
Me virei e dei de cara
com o rapaz que vi pouco antes, ele estava andando na minha direção
com uma cara que mesclava o pânico e o alívio.
- Oi? – perguntei
baixinho dando um passo involuntário para trás.
- Graças a Deus! Achei
que nunca ia encontrar você! – Disse ele sorrindo, chegando mais
perto e me dando uma abraço apertado e rapidamente me falando ao
ouvido – Venha sem fazer peguntas, eu sei da sua mãe, estou aqui
para te ajudar. Está tudo bem.
Ele passou o braço
pelos meus ombros e me guiou para outro lado da rodoviária, indo
sentido ao estacionamento, olhando para todos os lados e andando cada
vez mais rápido.
- Para onde estamos
indo? – perguntei olhando para ele e tropeçando nos meus próprios
pés enquanto olhava para os guichês.
- Para um lugar seguro
onde eu possa te contar tudo, mas não posso falar mais nada nesse
momento, estamos sendo seguidos e precisamos ir rápido. – disse
ele sem olhar para mim.
Olhei de relance para
trás e vi os mesmos homens de preto que atearam fogo na minha casa e
quase me pegaram antes, dispersados tentando se misturar as pessoas.
Meu coração começou a bater mais forte e senti calafrios. O que
estava acontecendo?
Senti meu corpo sendo
puxado contra uma porta, que se abriu e dava de frente para vários
lances de escada.
- Atrás de mim! –
disse ele correndo e me puxando pela mão pelo lance que descia.
Quando terminei de descer a segunda escada ele abriu uma porta com um
pontapé e me puxou por ela, antes da porta bater ouvi gritos e
outras pessoas descendo a escada.
Andamos pela plataforma
e ele parou atrás de uma propaganda perto de umas barracas de
lanche. Ele continuou segurando a minha mão enquanto pegava o
telefone e ligava para alguém:
- Alô, Paulo, eles
encontraram ela, estão aqui, não consigo chegar até o carro. Eu
estou nas plataformas de desembarque, perto da saída do terminal,
mas eu vi uns cinco deles e com certeza tem mais espalhados. – uma
pausa e ele me puxou para mais perto dele, me puxando pela mão –
ela está bem, mas não tem como correr rápido o suficiente...-
senti a mão dele apertando a minha e ele olhou na minha direção –
Claro, pode deixar.
Ouvimos passos perto de
nós e ele ficou tenso. Pelas vozes era alguém da limpeza.
- Isabela, me dá uma
das suas mochilas – disse ele já tirando o peso das minhas mãos –
Preste muita atenção no que eu vou falar ok? Nós vamos sair e ir
para o fim do terminal de embarque, faça tudo o que eu mandar e não
pare de andar até chegarmos a última plataforma tudo bem? Não
fique com medo, sei da sua mãe e de quase tudo sobre você, eu vou
te proteger. - disse ele piscando - Pronta?
Balancei a cabeça, sem
saber se minha voz sairia. A adrenalina era tanta que eu quase não
sentia meu braço doendo, ou meu corpo protestando por ter acabado de
sofrer uma queda. Respirei fundo uni minhas ultimas forças e segui
bem atrás dele assim que ele começou a andar. Andamos quase
correndo, e eu pulando e tropeçando em todas as malas, esbarrando em
algumas pessoas, mas sem conseguir dizer nada.
Chegamos nas ultimas
plataformas e um carro encostou do nosso lado, grande, todo preto.
Ele parou e quando abriu a porta de trás para mim, ouvimos gritos e
tiros.
Eles acertaram no
carro, no vidro e no ombro do rapaz, que tentava me empurrar para
dentro do carro e em mais um monte de lugares que eu não vi. Ele me
jogou no banco e eu cai deitada, ele entrou me empurrando e gritando
com o motorista, ouvi mais alguns disparos e senti o carro se mover
rapidamente. Tentei me sentar mais o lado da minha barriga estava
doendo, coloquei a mão e senti o sangue. Gemi alto e tentei me
arrumar mais a dor era horrível, a minha vista começou a ficar
embaçada.
- Arthur, tudo bem,
você foi ferido? – disse o motorista
- Foi de raspão no
ombro, estou bem, acho que estamos...- Ele parou de falar e senti as
mãos dele onde doía em minha barriga– Ah não! Ela foi atingida!
Acho que vai desmaiar! Isabela? Você consegue me ouvir?
- Sim, mas tá
doendo....merda! – disse ofegante e de repente todo o meu corpo
pareceu se resumir para a lateral da minha barriga, a dor era
alucinante, e tentei não gritar mas quando mais eu reprimia, mas a
dor aumentava.
- Corre Paulo, acho que
a bala ainda ta aqui dentro, ela vai desmaiar, ta perdendo muito
sangue.
- Estamos chegando,
estamos chegando já!
Ouvi mais uns zumbidos
e meu corpo já não obedecia mais, estava consciente da mão
estancando o ferimento, do carro correndo, da chuva na janela, mas
não tinha mais dor, eu não sentia mais o meu corpo. Não consegui
falar nada, apenas me deixei afundar mais e mais na inconsciência.
*********